quinta-feira, 11 de julho de 2013

Um bebê sendo cultivado




Nesta cena aparece um bebê completamente perfurado de tubos, dando a entender que toda sua energia está sendo retirada desde que nascemos. 

 Figura 1: Extração da energia humana - Matrix (1999)


 
Comparando essa imagem com a ideia de que as crianças, desde cedo adquirem, processam e produzem linguagem, podemos dizer que desde cedo estamos suscetíveis ao controle do nosso pensamento pela linguagem. Lyons (1981), no capítulo A linguagem e a mente, explica que todas as crianças normais começam a falar com mais ou menos a mesma idade e atravessam os mesmos estágios de desenvolvimento linguístico. Além disso, adverte o autor, “tal progresso é, no total, independente de inteligência e de diferenças de meio social e cultural” (Lyons, 1981, p. 188). Ao falar sobre a evolução da criança, do ponto de vista linguístico, Lyons (1981) demonstra que as crianças conseguem expor uma gramática um tanto mais pura, no sentido da lógica de funcionamento da língua. Com o tempo, elas aprendem a utilizar a língua conforme as convenções sociais vigentes. Construções como /fazi/, comuns nos primeiros anos de vida, como resultado da lógica /vender/-/vendi/, /fazer/-/fazi/, são aos poucos substituídas pelas construções gramaticalmente aceitas. Queremos enfatizar aqui a noção de que a criança nasce e começa a desenvolver a linguagem logo cedo. Essa linguagem vai aos poucos tomando os contornos necessários ao controle do pensamento.
Em determinado ponto do filme também, Neo recebe disquetes que representam as habilidades que ele irá aprender, tal habilidade será carregada no seu cérebro e o tornará pronto para agir sobre ela. Nessa cena quando carregam nele o Kong Fu, ele acorda e diz: “já sei lutar” e Morfeu o desafia: “então me mostra!” e então segue para o desafio. Nesse momento duas teorias ganham corpo se fizermos uma analogia do Kong Fu e a Linguagem, a ideia de Chomsky sobre a aquisição de linguagem acontecendo a partir de um dispositivo inato que começará a funcionar em consequência de um input por meio do uso desse conhecimento, Neo sentia que sabia, porém o uso da arte marcial fica limitado, pois só o conhecimento teórico não faz dele um lutador brilhante. Nesse caso o funcionalismo aparece quando na luta Neo não consegue usar adequadamente seu conhecimento, ou seja, na relação com o outro em um contexto ‘X’, que é imprevisível e não depende apenas dos aspectos internos, ele é derrotado. Transpondo para a questão da língua como Dillinger (1991, p. 400) esclarece o ponto de vista de Votre e Naro: “o funcionalismo se preocupa com as relações (ou funções) entre a língua como um todo e as diversas modalidades de interação social e não tanto com as características internas à língua”.

Um comentário:

  1. Assim, da mesma forma que, em Matrix (1999), Morfeu se detem em explicar como o sistema de controle funciona, Chomsky (1975), em Aspecto da teoria da sintaxe, vê na gramática generativa “um sistema de regras que, de um modo explícito e bem definido, atribui descrições estruturais a frases. Isso também pode ser entendido como a estrutura profunda de uma língua (Chomsky, 1975). Num nível mais aparente está a estrutura superficial. Chomsky (1975), assim como Morfeu em Matrix, está interessado nos processos mentais que estão muito para além do nível de consciência efetiva ou mesmo potencial. Cada um utiliza esse conhecimento a seus propósitos. Para Chomsky (1975) a gramática generativa tenta especificar aquilo que o falante sabe efetivamente, e não aquilo que ele possa informar acerca do seu conhecimento. Morfeu, de igual forma, tenta mostrar a Neo que o que ele (e toda a humanidade) vê é determinado por mecanismos de controle que projetam em nossa mente realidades ilusórias afim de manter os seres humanos vivos o suficiente para fornecer energia.

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