Nesta cena aparece um bebê completamente perfurado de tubos,
dando a entender que toda sua energia está sendo retirada desde que nascemos.
Figura 1: Extração da energia humana - Matrix (1999)
Comparando essa imagem com a ideia de que as crianças, desde
cedo adquirem, processam e produzem linguagem, podemos dizer que desde cedo
estamos suscetíveis ao controle do nosso pensamento pela linguagem. Lyons
(1981), no capítulo A linguagem e a mente, explica que todas as crianças
normais começam a falar com mais ou menos a mesma idade e atravessam os mesmos
estágios de desenvolvimento linguístico. Além disso, adverte o autor, “tal
progresso é, no total, independente de inteligência e de diferenças de meio
social e cultural” (Lyons, 1981, p. 188). Ao falar sobre a evolução da criança,
do ponto de vista linguístico, Lyons (1981) demonstra que as crianças conseguem
expor uma gramática um tanto mais pura, no sentido da lógica de funcionamento
da língua. Com o tempo, elas aprendem a utilizar a língua conforme as
convenções sociais vigentes. Construções como /fazi/, comuns nos primeiros anos
de vida, como resultado da lógica /vender/-/vendi/, /fazer/-/fazi/, são aos
poucos substituídas pelas construções gramaticalmente aceitas. Queremos
enfatizar aqui a noção de que a criança nasce e começa a desenvolver a
linguagem logo cedo. Essa linguagem vai aos poucos tomando os contornos
necessários ao controle do pensamento.
Em determinado ponto do filme também, Neo recebe disquetes
que representam as habilidades que ele irá aprender, tal habilidade será
carregada no seu cérebro e o tornará pronto para agir sobre ela. Nessa cena
quando carregam nele o Kong Fu, ele acorda e diz: “já sei lutar” e Morfeu o
desafia: “então me mostra!” e então segue para o desafio. Nesse momento duas
teorias ganham corpo se fizermos uma analogia do Kong Fu e a Linguagem, a ideia
de Chomsky sobre a aquisição de linguagem acontecendo a partir de um
dispositivo inato que começará a funcionar em consequência de um input por meio
do uso desse conhecimento, Neo sentia que sabia, porém o uso da arte marcial
fica limitado, pois só o conhecimento teórico não faz dele um lutador
brilhante. Nesse caso o funcionalismo aparece quando na luta Neo não consegue
usar adequadamente seu conhecimento, ou seja, na relação com o outro em um
contexto ‘X’, que é imprevisível e não depende apenas dos aspectos internos,
ele é derrotado. Transpondo para a questão da língua como Dillinger (1991, p.
400) esclarece o ponto de vista de Votre e Naro: “o funcionalismo se preocupa
com as relações (ou funções) entre a língua como um todo e as diversas
modalidades de interação social e não tanto com as características internas à
língua”.
Assim, da mesma forma que, em Matrix (1999), Morfeu se detem em explicar como o sistema de controle funciona, Chomsky (1975), em Aspecto da teoria da sintaxe, vê na gramática generativa “um sistema de regras que, de um modo explícito e bem definido, atribui descrições estruturais a frases. Isso também pode ser entendido como a estrutura profunda de uma língua (Chomsky, 1975). Num nível mais aparente está a estrutura superficial. Chomsky (1975), assim como Morfeu em Matrix, está interessado nos processos mentais que estão muito para além do nível de consciência efetiva ou mesmo potencial. Cada um utiliza esse conhecimento a seus propósitos. Para Chomsky (1975) a gramática generativa tenta especificar aquilo que o falante sabe efetivamente, e não aquilo que ele possa informar acerca do seu conhecimento. Morfeu, de igual forma, tenta mostrar a Neo que o que ele (e toda a humanidade) vê é determinado por mecanismos de controle que projetam em nossa mente realidades ilusórias afim de manter os seres humanos vivos o suficiente para fornecer energia.
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