Para Sapir (1929: 8), “a linguagem é um método puramente
humano e não instintivo de se comunicarem ideias, emoções e desejos por meio de
símbolos voluntariamente produzidos”. Lyons (1981) objeta essa definição,
defendendo que ela é imprecisa, uma vez que não está clara o que vem a ser
ideia e muito do que é comunicado na língua não pode ser definido nem como
emoção nem como desejo.
No entanto, é inegável a propriedade da linguagem humana de
expressar as emoções e os desejos. No caso, da discussão que estamos
desenvolvendo, o fato de estarmos conscientes de que a linguagem serve a esses
propósitos faz toda diferença, pois se acreditamos que a linguagem determina o
pensamento, conforme a hipótese Sapir-Whorf de que a linguagem determina o
pensamento. Considerando que a linguagem determina o pensamento, vamos concluir
que nossas emoções e desejos também são determinados pela linguagem. A lógica
desse raciocínio nos permite dizer, então, que nossas emoções e desejos também
estão sob controle.
Para Sapir (1947)
“nós estamos em todo o nosso pensamento e para sempre, “a
mercê da língua determinada que se tornou o meio de expressão para a
sociedade”, por que só podemos “ver e ouvir e experimentar de outras formas” em
termos das categorias e distinções codificadas na linguagem; as categorias e
distinções codificadas em um sistema são exclusivos àquele sistema e
incompatíveis aos de outros sistemas (p.162).
Utilizando essa noção de que a linguagem determina o
pensamento, concebe a linguagem como território de conflito pelo poder, visto
que dominar a linguagem significa dominar o pensamento; impor uma determinada
linguagem significa impor um determinado pensamento; utilizar-se de uma
determinada linguagem é o mesmo que utilizar esse pensamento.
Em Outline of Linguistic Analysis, Bloch e Trager (1942: 5 apud Lyons, 1981) definem língua como “sistema de símbolos vocais arbitrários por meio dos quais um grupo social co-opera”. Lyons (1981) vai enfatizar que essa definição traz a função comunicativa da língua.
ResponderExcluirHall (1968: 158 apud Lyons 1981), em Essay on Language, definiu linguagem como “a instituição pela qual os humanos se comunicam e interagem uns com os outros por meio de símbolos arbitrários orais-auditivos habitualmente utilizados”. Parece-nos interessante, aqui, enfatizar, tal qual o fez Lyons (1981), a noção de interação presente na linguagem e o componente habitual, que muitas vezes traz a impressão de que a linguagem é natural. Temos em mente que as (inter)ações decorrem da linguagem, ao mesmo tempo em que a linguagem media as inter(ações). Forma-se, assim, a tríade apresentada em Matrix (1999): pensamentos, emoções e ações. A alegoria presente no filme defende a noção de que nossos pensamentos, emoções e ações estão sob controle. O próprio Lyons (1981) observa que usar uma língua ao invés de outra, é comportar-se de um forma ao invés de outra. Para o autor, tanto a língua quanto as línguas específicas podem ser encaradas como comportamento, ou atividade, parcialmente observável e identificável como comportamento linguístico. Em Para entender a Linguística, Martin (2003) explica que a línguas não são diretamente observáveis porque só podemos observar as produções de seus falantes e o sistema que torna essas produções possíveis. O autor quer dizer que a língua, impressa no cérebro daqueles que a falam, só é acessível através de seus efeitos. Isso, além de colocar certa dificuldade na pesquisa linguística, impõe reconhecê-la como disciplina essencialmente teórica.
Robins (1979: 9-14, apud Lyons, 1981) não define linguagem, mas alerta que as definições presente naquele momento “tendem a ser triviais e a não trazer grande informação, a menos que pressuponham... alguma teoria geral da linguagem e da análise linguística”. O autor ressalta o caráter simbólico e a arbitrariedade dos signos da língua. Fica claro, portanto, que, em sendo arbitrários, os signos são resultado de construções culturais. O mesmo pode se dizer da construção de sentidos, que depende da interação humana e estão sujeitos à manipulação e estão no seio das relações de poder. Cunha & Freitag (2008) fizeram um estudo sobre como as diferenças de gênero se manifestam na linguagem, demonstrando que na linguagem masculina a construção de sentido para a mulher que trai seu marido tende a ser mais pejorativa, funcionando a linguagem como contenção a que a mulher adote tais práticas.
ResponderExcluirEstá aí implícita a ideia de que a mulher é simplesmente e diretamente uma mulher. Talvez até mesmo o termo mulher carregue certo desejo de diferenciação, mas o que queremos dizer é que a linguagem torna as coisas (ou pessoas) outras coisas e a nossa tarefa, segundo a mensagem contida em Matrix (1999) é tentar enxergar as coisas como elas realmente são.
Chomsky (1957: 13 apud Lyons, 1981), por sua vez, considerava a linguagem como “um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos”. Essa definição enfatiza que a linguagem é formada por elementos, partes menores, que são em número finito, mas que suas combinações são infinitas. Mais recentemente, Chomsky & Fitch (2002) vão tratar a linguagem como componente interno da mente/cérebro. Lyons (1981), analisando Chomsky (1957), coloca que a maior contribuição de Chomsky para a linguística foi ter atribuído ênfase especial ao que chama de dependência estrutural dos processos pelos quais se constroem as sentenças. Para ele, as sentenças emergem de uma gramática primária (gerativa). O interesse de Chomsky é explicitar essa gramática primária que gera as sentenças possíveis na língua.
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